“Várias políticas públicas têm instrumentos empíricos e avançados de avaliação, como saúde, educação e comércio, mas isso não acontece na política externa. Recentemente, o Itamaraty já foi incitado pelo Senado Federal e Tribunal de Contas da União a desenvolver esses mecanismos e métricas de avaliação para essa área”, afirma o professor Pedro Feliú Ribeiro no evento de lançamento do portal Polen – Política Externa em Números, que reúne uma série de números e dados sobre a política externa brasileira.
Segundo ele, o objetivo desse projeto é sistematizar os dados e apresentá-los de forma acessível e intuitiva, incentivando pesquisa de avaliação da política externa. A plataforma foi lançada pelo Instituto de Relações Internacionais (IRI), no início de abril, durante o evento Para Além do Discurso: Indicadores e Métricas na Avaliação da Política Externa, no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. A plataforma está disponível neste link.
“Estabelecer formas de medir a eficiência das políticas externas é essencial para determinar o sucesso ou fracasso de um projeto, permitindo a definição de objetivos tangíveis e a mensuração dos custos e benefícios. Esses dados podem responder questões como: Onde abrir uma embaixada? Vale a pena ter mais embaixadas ou mais consulados? Quantos diplomatas eu distribuo ao redor do globo? Qual é a melhor forma de distribuir os recursos para atingir projeção internacional?”, exemplifica o professor. A iniciativa é um dos resultados do projeto Eficiência e política externa: mensuração, accountability e os custos da diplomacia brasileira, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A plataforma foi criada a partir do clássico modelo de Input x Output (quanto se investe x quanto se recebe), no qual input representa todos os gastos do Brasil no exterior e output é o “índice de política externa” que reúne uma série de distintas dimensões da política externa. Como está descrito no site, é conferida especial atenção às relações bilaterais do Brasil, por meio do índice de política externa, uma medida agregada de diversos indicadores sobre o nível de engajamento bilateral com 195 países, assim como os gastos diplomáticos também por país.

Apesar dos avanços, ainda há desafios significativos na metrificação dessas políticas. O primeiro deles é “traduzir objetivos vagos, comuns nas metas de muitas instituições – como promover a paz mundial – em algo mensurável e objetivo”, explica Feliú. Outro desafio é o contexto multilateral da política externa, pois “é muito difícil atribuir a um único país o sucesso ou o fracasso de uma negociação”, dado o grande número de agentes envolvidos.
Além disso, a política externa, na maioria das vezes, é apenas um meio para alcançar um objetivo vinculado a outra política pública. Um exemplo disso é o programa Mais Médicos: o papel da política externa foi intermediar diálogos com outros países para viabilizar o intercâmbio de profissionais. No entanto, como diz o professor, se essa medida melhoraria o sistema de saúde, reduziria filas ou diminuiria a mortalidade já não seria uma responsabilidade da política externa. “Assim, o sucesso ou o fracasso da iniciativa não necessariamente reflete o desempenho da política externa em si”, como informa Ribeiro.
A plataforma
Além de pesquisadores do IRI no projeto, participam especialistas de outras universidades brasileiras e do exterior, como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a Universidade Federal do Tocantins (UFT), além do IBMEC-SP; a Pontifícia Universidade Católica e a Universidade San Sebastián, ambas do Chile; a Universidade da República, do Uruguai; e a Universidade College London, da Inglaterra.
Na plataforma, os dados estão organizados por tópicos, como gastos diplomáticos, gastos com pessoal, emendas parlamentares e até mesmo sobre a imagem do Brasil na mídia internacional. Em cada seção, há uma série de informações que podem ser filtradas e transformadas em gráficos, conforme a escolha do usuário. O site também apresenta gráficos com uma análise da eficiência diplomática do Brasil em cada mandato presidencial, baseando-se no “índice de política externa”.

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“Gastos Diplomáticos”, por exemplo, compreende os dispêndios federais com as representações diplomáticas brasileiras, tanto em território nacional quanto estrangeiro. São duas bases de dados: “Gastos com Postos Oficiais”, que informa detalhadamente os gastos, nominais e deflacionados, do período de 2008 a 2022; e “Gastos Totais por País (Postos Oficiais e Moradias)”, que apresenta o somatório por ano de gastos públicos brasileiros em cada país listado, no intervalo de 2008 a 2022 (esta tabela também apresenta os valores nominais e deflacionados, com o ano de 2022 como base). Há também a seção “BNDES”, com informações sobre financiamentos externos feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A tabela “BNDES Bens” apresenta o número de projetos financiados pelo BNDES em países estrangeiros, computados anualmente, de 2002 a 2022; já a tabela “BNDES Serviços” informa os valores nominais dos investimentos externos diretos do BNDES, por países e anos, de 1998 a 2015.
Outra importante ferramenta de projeção da imagem do país no exterior é a diplomacia pública, seja ressaltando aspectos econômicos, culturais, turísticos ou diplomáticos. Assim, uma base de dados de destaque é “Imagem do Brasil”, que analisa textos positivos ou negativos publicados sobre o Brasil na mídia internacional, quantificando o número total de titulares (manchetes) sobre o País feitas em mídia internacional, selecionados para cada ano e país de origem da mídia, divididos por temas e por sentimentos (positivo ou negativo). Entre as muitas outras seções, estão “Gastos com Organizações Internacionais”, com informações sobre os recursos financeiros destinados pelo Brasil às instituições internacionais; “Empréstimos”, com os empréstimos internacionais contraídos pelo Brasil; e “Operações de Paz”, com dados sobre os convites recebidos pelo Brasil para participar em operações de paz e envio de tropas.
*Via Jornal da Usp
Confira no player abaixo o evento de lançamento da plataforma Polen:
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