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variedades Segunda-feira, 11 de Setembro de 2023, 07:00 - A | A

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FUZUÊ NA GLOBO

Casal Kelmiro, de 'Terra e paixão', surpreende por conquistar até o público mais conservador

Redação

 

- Foto: Reprodução/TV Globo

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Os personagens Kelvin (Diego Martins) e Ramiro (Amaury Lorenzo)

 

Se, no fundo, amor é o que todo mundo busca na vida, por que algumas pessoas não podem expressar seus sentimentos por outra? Surpreendentemente, um casal tem causado o maior fuzuê na TV, mas não na trama das sete, é na novela “Terra e paixão”. E ele não é formado por um homem e uma mulher, mas por dois rapazes: Kelvin, interpretado por Diego Martins, e Ramiro, vivido por Amaury Lorenzo. O sucesso da dupla torna-se mais significativo ainda porque Ramiro, no caso, faz aquele tipo bronco, que sempre esteve inserido num ambiente rural de uma pequena cidade, lugar que costumeiramente aceita só os mais viris, os machões.

 

Imaginem como deve ser difícil não conseguir manifestar sua afeição por alguém de que gosta dependendo do local onde você cresceu ou mora. Mas acontece. Tenho amigos que precisaram sair da cidade onde nasceram para, simplesmente, viver a liberdade de serem quem são. Um direito que todo mundo deveria ter, em qualquer lugar.

 

A repercussão do casal Kelmiro, como foi carinhosamente apelidado pelos fãs, tem uma relevância especial se comparada a outras histórias homoafetivas mostradas na TV porque está cativando não só pessoas LGBTQIA+, mas também uma parcela do público que enxergamos ser resistente a essa realidade. Em entrevista publicada na última semana no Sessão Extra, o próprio Diego Martins afirmou que a boa receptividade dos mais conservadores foi um “tapa em sua cara’’. Amaury contou até que uma espectadora religiosa confessou sair correndo da igreja para vê-los na novela. Leitores já compartilharam comigo que “a turma do sofá”, como é chamada a parcela mais velha da população, que acompanha o folhetim no horário normal da TV e não pelas redes sociais ou pelo streaming, também torce para que Kelvinho e Ramis Ramis sejam felizes. Essa aceitação não significaria que a dupla está conseguindo mostrar que amor é amor, independentemente dos sujeitos envolvidos na relação?

 

Claramente, o humor que envolve as duas figuras da trama das nove colabora com essa acolhida. O brasileiro é sedento de humor, de algo leve que o faça rir. Mas há camadas mais profundas no desenvolvimento desses personagens. De uns capítulos para cá, o bruto Ramiro provou se sentir tão bem ao lado de Kelvin que passou a expor para ele suas fragilidades. Em cenas comoventes, chorou ao dizer que nunca recebeu carinho na vida e assumiu a vergonha de não saber ler. Apaixonado, seu parceiro ofereceu-se não só para ser seu professor como se mostra sempre presente a dar o amparo que o outro jamais teve. Essa humanização dos dois parece ter sido a sacada do autor para que todo tipo de gente fosse arrebatada por Kelmiro.

 

Mas há também as vozes dissonantes, e eu presto atenção nelas. Um amigo mandou áudios dizendo que não gostava de, mais uma vez, ver um amor homoafetivo como algo proibido. Na opinião dele, esse retrato colabora para que as coisas não caminhem e permaneçam como estão. Eu entendo e não posso discordar, já que é algo que ele vivencia na pele. Mas ponderei que, a favor de Walcyr Carrasco, que desenvolve a história, está o desfecho ainda em aberto dos personagens. Não sabemos que futuro ele planeja para os dois, mas, sinceramente, espero que não seja o do amor escondido, clandestino. Pontuei ainda que o Brasil é diverso em suas origens. Por isso, conquistar a parcela da população avessa à realidade mostrada de um modo mais homeopático talvez fosse a opção do momento.

 

O problema é que o momento é 2023, como meu amigo bem me lembrou. E quando vemos uma barbárie como a ocorrida há uma semana no Rio, quando um jovem gay foi brutalmente espancado por um médico, comprovamos que já passou da hora de resolvermos algumas questões.

 

Acho que Walcyr está encalacrado para definir o final de Kelvin e Ramiro — principalmente se considerarmos, para além da história de amor, o lado criminoso dos dois. Mas isso é um problema dele. Já a homofobia é um problema de todos nós. Não podemos nos isentar. Quem a pessoa ama ou com quem ela dorme não faz diferença na sua vida. Se faz, é você que tem um problema.

 

*Conteúdo Extra

 

 

 

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