19 de Abril de 2025

cotações: DÓLAR (COM) 5,81 / EURO 6,61 / LIBRA 7,71

opinião Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2025, 13:21 - A | A

Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2025, 13h:21 - A | A

ARTIGO

ESPERANDO GODOT (II)

*VIVALDO LOPES

 

1

 

 

 

Este artigo é uma versão atualizada de outro que escrevi anteriormente sobre a sofrência da população cuiabana à espera do VLT que nunca chegou. A razão da sofrência agora mudou de nome e se chama BRT.

 

“Esperando Godot”, de Samuel Beckett, é uma das obras teatrais mais belas e conhecidas mundialmente. Tornou-se uma referência mundial de inovação da narrativa teatral, a ponto de criar uma nominação própria na dramaturgia, o chamado Teatro do Absurdo.

 

O enredo é relativamente simples: dois andarilhos aguardam indefinidamente, numa estação de trem, a chegada de um tal “Senhor Godot” que nunca aparece. Passam toda a duração da peça falando sobre Godot. A peça termina e o senhor Godot não chega.

 

O VLT (Veículo Leve sobre Trilho), uma espécie de metrô de superfície, é o investimento público mais aguardado em Cuiabá desde 2009, quando a cidade foi escolhida para ser uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol – FIFA 2014. A previsão era que entraria em operação no primeiro semestre de 2014.

 

O jornal A Gazeta está publicando uma série de excelentes e esclaredoras reportagens sobre a trajetória do BRT, que virou VLT em 2012 e voltou a ser BRT em 2022.

que o BRT não se torne uma história repaginada do VLT e continuem, como os dois ansiosos andarilhos da peça de Beckett, esperandoo “Senhor Godot” que nunca chega.

 

A narrativa do VLT é bem parecida com a do Senhor Godot, da peça de Beckett. A cidade espera, espera, se mobiliza, discute exaustivamente o tipo de transporte, mas este nunca chega.

 

O governo estadual , responsável pelo empreendimento, anunciou em 2022 que abandonaria o modal VLT, ignorando os gastos de mais de R$ 1 bilhão já desembolsados na empreitada. Em seu lugar vai construir o BRT ( Bus RapidTransit ). Uma modalidade de transporte urbano que utiliza ônibus que trafegam em corredor exclusivo.

 

Em valores atualizados e considerados os custos financeiros do empréstimo tomado para execução do empreendimento, já foram gastos quase R$ 2 bilhões em obras civis, trilhos, aquisição dos vagões, locomotivas e outros componentes. Do empréstimo contratado pelo governo estadual, uma parte foi devolvida à Caixa Econômica Federal, devidamente acrescidos de juros e atualizações monetárias. A administração estadual afirma que os R$ 500 milhões necessários para implantação do BRT serão pagos com recursos próprios do tesouro estadual.

 

À época, para conclusão e funcionamento do VLT, uma das alternativas levantadas por especialistas em logística em mobilidade urbana, seria o estado passar à iniciativa privada, por meio de concessão onerosa, a conclusão das obras e sua operação por um período de 25 anos, renováveis por igual período. O processo seguiria a mesma modelagem dos leilões de concessões de rodovias, aeroportos, por meio da Bolsa de Valores de São Paulo ( B3 ), de forma transparente e atrairia empresas nacionais e internacionais especializadas na operação desse tipo de transporte de massas. Feitas as devidas adaptações, a solução poderia ser aplicada para conclusão e operação do BRT.

 

Assim, o estado concluiria o projeto sem a necessidade de aportar novos recursos públicos e entregaria às populações cuiabana e várzea-grandense um transporte público de boa qualidade. Para equalização das futuras tarifas às atuais, a administração estadual deveria ofertar benefícios fiscais no ICMS e os municípios de Cuiabá e Várzea Grande ofereceriam incentivo tributário do ISS cobrado sobre os serviços de transporte coletivo.

 

As reduções tributárias permitiriam à população trabalhadora usufruir da nova modalidade de transporte sem desembolsar mais do que já paga atualmente.

 

O que os cidadãos-contribuintes de Cuiabá e Várzea Grande mais desejam, a esta altura, é que o BRT não se torne uma história repaginada do VLT e continuem, como os dois ansiosos andarilhos da peça de Beckett, esperandoo “Senhor Godot” que nunca chega.

 

*Vivaldo Lopes é economista.

 

 

 *Os artigos são de responsabilidade seus autores e não representam a opinião do Mídia Hoje.

Nossas notícias em primeira mão para você! Link do grupo MIDIA HOJE: WHATSAPP

Siga a pagina  MÍDIA HOJE no facebook(CLIQUE AQUI)



Comente esta notícia