Na literatura e na vida, os cientistas e detetives “comem, bebem e dormem” hipóteses. Cientistas postulam relações entre variáveis a partir de uma perspectiva probabilística. A origem social do indivíduo influencia no seu processo de mobilidade social? Eles tentam responder à pergunta formulando hipóteses e criando uma amostra para testá-la. Os detetives examinam a cena de um crime, fazem entrevistas, descobrem suspeitos, postulam motivação e testam tudo isso baseando-se nos dados que colheram.
A comparação entre cientistas e detetives não é incomum. No livro “O Arco-Íris de Feynman: a busca da beleza na física e na vida”, o renomado físico Leonard Mlodinow diz: “o cientista analisa uma coisa do mesmo jeito que um detetive, que tenta descobrir, baseando-se em pistas, o que aconteceu quando ele não estava ali”.
Mas, cientistas e detetives podem ter seus vieses, seus estereótipos. Os vieses podem ser vistos como pensamentos tendenciosos sobre determinado tema ou grupo social, que induzem a decisões unilaterais e comportamentos prejudiciais.
Um estereótipo é um tipo de viés, que pode desembocar em preconceitos. Um detetive pode arrumar um culpado sem antes ter todas a provas, as evidências reunidas. Ele pode fazer isso porque se orientou por um viés ou um estereótipo; da mesma forma o cientista.
Uma vez que o viés tenha se constituido em estereótipo, ele é aplicado indiscriminadamente a todos os membros do grupo estereotipado, sem que haja lugar para diferenças individuais. Estereótipos são generalizações incorretas, ilógicas na origem e rigidamente resistente a novas informações.
Não se sabe como um estereótipo tem início, mas uma vez incorporado a cultura, ele é mantido por quatro tipos de vícios: a percepção seletiva (observação apenas daquelas situações capazes de confirmá-lo, ignorando as exceções), interpretação seletiva (interpretação em termos do estereótipo), por identificação seletiva e por exceção seletiva.
Contudo, cientistas e detetives são diferentes em muitas coisas. Eles têm objetivos diferentes. Suas técnicas de investigação também são diferentes, embora tenha a mesma sequência de atividades observadas na pesquisa científica: problema, hipóteses, inferência (amostragem), teste das hipóteses.
E, por causa dessa defesa política, muitos estudos deixam de ser feitos. Um viés é um viés não importa sua fundamentação.
Portanto, o método científico não é único. E nem a explicação é uma prerrogativa única da ciência. O biólogo Peter Medawar chegou a dizer a que a maioria da pesquisa científica não levava a lugar nenhum mas, se chegava a algum lugar, geralmente não era na direção em que foi iniciada. A maioria dos crimes não é resolvida, segundo a sociologia do direito.
Cientistas e detetives fazem afirmações baseadas em evidências empíricas. Mas, no caso da ciência, por ser empírica não significa, necessariamente, que uma afirmação seja verdadeira. Ao contrário do que certa discussão sobre fake news durante a pandemia têm sustentado, a ciência não é a defesa da verdade. A ciência defende relações entre variáveis a partir de certas referências numa perspectiva probabilística.
O que difere a ciência de outros tipos de conhecimento é que ela se autocorrige, o que revela que ela tem falhas. Um exemplo pode ser dado por um estudo publicado este ano pela revista Nature.
Rebecca Rechin e Colaboradores afirmam que a comunidade de pesquisa biomédica e clínica está começando a fazer correções para um viés de longa data de usar homens predominantemente em amostras de pesquisas. Existem experiências específicas de mulheres que afetam a saúde feminina, como menstruação, contraceptivos hormonais, gravidez e menopausa que fizeram com que as mulheres fossem descartadas de amostras para se estudar enfermidades e uma série de outras temáticas na área médica.
Rechlin e colaboradores examinaram artigos publicados entre 2009 e 2019 em seis revistas de neurociência e psiquiatria e descobriram que houve um aumento de 30% na porcentagem de artigos que relatam estudos que incluíram ambos os sexos em 2019 em comparação com 2009. Apesar desse aumento, em 2019 apenas 19% dos artigos da amostra relataram usar um design ideal para descoberta de possíveis diferenças sexuais e apenas 5% dos artigos relataram estudos que analisaram o sexo como variável de descoberta.
Muitas disparidades de saúde no tratamento e diagnóstico têm sido atribuída à falta de pesquisas em fêmeas tanto em estudos com animais quanto em trabalho clínico, ou seja, existe uma inclusão insuficiente de mulheres em ensaios clínicos e as agências de fomento à pesquisa têm tentado resolver isso.
Mas, existe também um víes contrário de certos movimentos que não admitem a ideia de que homens e mulheres possam ser diferentes. E, por causa dessa defesa política, muitos estudos deixam de ser feitos. Um viés é um viés não importa sua fundamentação.
Estereótipos positivos ou negativos continuam a ser estereótipos e, portanto, dificultam o trabalho de cientistas e detetives.
*André L. Ribeiro-Lacerda – Sociobiólogo, psicólogo é professor titular de sociologia na UFMT, campus de Cuiabá.
*Fonte: Recrutareprindiscriminare - Marketing România - soluții inteligente pentruafacereata! (marketingromania.ro)
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