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geral Quinta-feira, 19 de Dezembro de 2024, 07:55 - A | A

Quinta-feira, 19 de Dezembro de 2024, 07h:55 - A | A

VERGONHA MUDOU DE LADO

Ex-marido de Gisèle Pelicot é condenado a 20 anos de prisão

Redação

 

Reprodução/Redes Sociais

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Dominique Pelicot, o homem que passou uma década dopando sua então esposa, Gisèle Pelicot, e convidando outros homnens a estrupá-la, foi condenado a 20 anos pela Justiça francesa na manhã desta quinta-feira (19/12). Outros 50 réus envolvidos neste caso que chocou a França ainda aguardam suas sentenças.

 

Dominique, de 71 anos, foi considerado por estupro com agravantes e por gravar e distribuir imagens. A pena de 20 anos é o máximo para esse tipo de caso no país. Dominique também foi considerado culpado por gravar imagens sexuais de sua filha e de suas duas noras.

 

A decisão foi proferida por cinco juízes de um tribunal de Avignon, no sul da França. O julgamento se estendeu por três meses e ganhou destaque mundial quando a vítima, Gisèle Pelicot, de 72 anos, decidiu romper o anonimato, exigindo que o julgamento fosse público e que as imagens dos estupros gravados pelo ex-marido fossem exibidas no tribunal. Uma decisão que ela sintetizou com a frase “que a vergonha muda de lado”.

 

"Quando ouço essas mulheres [as esposas dos acusados] dizerem que seus maridos não são estupradores, eu pensei o mesmo. Quando decidi retirar o sigilo, queria que elas dissessem: 'Se a senhora Pelicot fez isso, nós também podemos'. Não quero mais que elas sintam vergonha. A vergonha não é nossa, é deles. Não expressa nem minha raiva nem meu ódio, mas uma determinação de mudar esta sociedade", disse Gisèle no início do processo.

 

Dos 51 réus que foram julgados – incluindo Dominique –, 47 foram considerados violentos. Outros dois foram declarados culpados de tentativa de estupro e dois por agressão sexual. Um dos réus está foragido e foi julgado à revelia.

 

Entre os que foram julgados estava um homem que não estuprou Gisèle Pelicot, mas foi acusado de abusar sexualmente repetidamente de sua própria esposa com a ajuda de Dominique Pelicot, sendo apelidado de "discípulo" de Dominique durante o julgamento.

 

Aos réus, o tribunal proferiu penas que vão desde três anos de prisão, sendo duas com liberdade condicional, a até 20 anos de detenção, a pena máxima imposta a Dominique. Os quatro acusados ​​foram condenados a 5 anos de prisão, parcialmente suspensos, por estupro ou tentativa de julgamento. O "discípulo" de Dominique foi condenado a 12 anos de prisão. E um acusado de estuprar Gisèle em seis oportunidades foi condenado a 15 anos de detenção.

 

Dominique admitiu todas as acusações durante o julgamento. "Todos os que estão aqui, apesar da presunção de inocência, são perigosos, como eu", disse ele. A maioria dos réus não quis testemunhar. Houve também quem insistisse em negar os fatos, apesar das milhares de fotos e vídeos que Dominique Pelicot armazenou enquanto os crimes eram cometidos, provas fundamentais neste julgamento.

 

“Meu corpo a estuprou, mas meu cérebro não”, chegou a afirmar um dos homens filmados. Vários alegaram ainda que foram enganados e manipulados por Dominique, mas o próprio ex-companheiro de Gisèle negou isso. “Todos sabiam, não podem dizer o contrário”, disse Dominique.

O caso

 

Os estupros contra Gisèle Pelicot ocorreram entre 2011 e 2020. Dominique regularmente colocava a esposa, com quem foi casada há 50 anos, em estado de inconsciência com doses elevadas de ansiolíticos. Em seguida, convidava homens desconhecidos, recrutados em fóruns na internet, para virem para sua residência na cidade de Mazan, para estuprar sua esposa inconsciente. Dominique ainda filmava e fotografava tudo. Ao todo, quase 200 estupros foram registrados.

 

Foram esses vídeos e fotos que levaram à identificação de mais de 50 homens, entre 26 e 74 anos. Outros 22 não puderam ser identificados pelos investigadores. Todos os 50 moram ou moravam em cidades e vilarejos num raio de 50 quilômetros de Mazan. O perfil variado dos agressores, que incluía motoristas de caminhão, um especialista em TI, seguranças e um jornalista levou a imprensa francesa a apontar que eles representavam um microcosmo da sociedade do país, que os designou como Monsieur-Tout-Le-Monde ("Sr. Todo Mundo" em tradução livre).

 

O esquema monstruoso de Dominique só foi revelado em 2020, quando ele foi preso por filmar mulheres por baixo das saias num supermercado na cidade de Carpentras. Posteriormente, investigou-se a casa dele encontrando um disco rígido com centenas de vídeos e fotos que ele havia feito durante as sessões de abuso sexual de sua esposa. Também foram descobertas fotos que Dominique havia tirado secretamente de sua filha e duas noras quando elas estavam nuas.

 

Ao longo de todo o processo, Gisèle Pelicot tornou-se um ícone feminista global ao decidir tornar público este julgamento e assistir às sessões com o rosto descoberto "para que a vergonha possa mudar de lado". 

 

jps/cn (AFP, DW, ots)

 

*Via DW

 

 

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