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economia Quinta-feira, 19 de Maio de 2022, 07:00 - A | A

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VAI DOER NO BOLSO

Privatização da Eletrobras: para onde vai o dinheiro e qual será o impacto na conta de luz?

G1

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Se ocorrer como previsto até agora, o processo de privatização da Eletrobras, a maior empresa de energia elétrica da América Latina, deve movimentar R$ 67 bilhões ao longo dos próximos anos – dos quais R$ 25,3 bilhões irão direto para o caixa do governo.

 

Esse último valor será levantado por meio de uma oferta de ações na Bolsa, no que caminha para ser a segunda maior operação do mercado de capital brasileiro, atrás apenas da capitalização da Petrobras, realizada em 2010.

 

O negócio bilionário ainda dependia de um segundo julgamento no Tribunal de Contas da União (TCU), que foi realizado na quarta-feira (18), após um adiamento de 20 dias. O órgão deu aval para a continuidade da privatização.

 

 
De Olho no Orçamento — Foto: Arte/g1

De Olho no Orçamento — Foto: Arte/g1

 

Os R$ 67 bilhões da privatização serão divididos da seguinte forma: 

 

  • R$ 32 bilhões serão destinados à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) ao longo dos próximos 25 anos, sendo que R$ 5 bilhões serão pagos ainda em 2022. O objetivo é atenuar os reajustes tarifários e subsidiar políticas setoriais;
  • R$ 25,3 bilhões vão para o caixa do Tesouro e se referem ao chamado bônus de outorga, que será pago pela Eletrobras privatizada à União pela renovação dos contratos das 22 usinas hidrelétricas da empresa; e
  • R$ 9,7 bilhões são compromissos de investimento em bacias hidrográficas, que deverão ser realizados em um período de 10 anos.

 

 

Inicialmente, a ideia do governo era concluir todo o trâmite envolvendo o TCU em abril, para realizar a privatização em maio – a Medida Provisória (MP) que autoriza a capitalização da empresa foi sancionada em julho do ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro.

 

Bolsonaro sanciona com vetos MP que abre caminho para privatização da Eletrobras

 

Mas o processo tem sido mais lento do que o previsto. Hoje, num cenário otimista, o governo espera privatizar a companhia apenas no fim de junho ou início de julho.

 

E qual será o impacto para o consumidor?

 

Os especialistas dizem que uma eventual redução na conta de luz será pequena e temporária – irá vigorar apenas nos primeiros anos após a privatização da Eletrobras.

 

Uma queda mais estrutural na fatura não deve se concretizar, entre outros motivos, por causa dos chamados "jabutis" – trechos incluídos em uma MP que extrapolam o assunto original da proposta e que, no caso específico desse projeto, acabaram elevando os custos da operação.

 

Na conta dos analistas, o alívio na conta de luz residencial devido à privatização deve ser inferior a 3% em 2022. Essa queda, porém, só vai mitigar o forte avanço de preço já previsto para esse ano.

 

A TR Soluções, por exemplo, projeta um aumento médio de 11,9% em 2022. Ou seja, com a privatização da elétrica, essa alta pode ser menor, de cerca de 9%.

 

Nesse primeiro momento, o alívio na fatura será possível porque parte do dinheiro da privatização será destinada à CDE, um fundo bilionário que é bancado pelos consumidores via conta de luz todos os meses.

 

A CDE é apontada pelos especialistas como uma espécie de "caixa-preta" por subsidiar uma série de políticas que vão além do setor elétrico. Banca, por exemplo, custos com saneamento básico e agricultura, além de garantir dinheiro para energias que já não são mais competitivas, como é o caso das termelétricas movidas a carvão.

 

Dos R$ 32 bilhões que a CDE deve receber com a privatização da Eletrobras, R$ 5 bilhões serão já no primeiro ano.

 

Em 2022, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou um orçamento de R$ 32,1 bilhões para a CDE, sendo que os consumidores vão pagar R$ 30,2 bilhões desse montante. Com a venda da Eletrobras concretizada, esse custo recuaria para cerca de R$ 25 bilhões.

 

"Esse aporte de R$ 5 bilhões deve ocorrer 30 dias após a assinatura dos novos contratos de concessão das usinas e vai proporcionar uma redução média de pouco menos de 3% para todos os consumidores residenciais", estima Helder Sousa, diretor de Regulação da TR Soluções.

 

Impacto na conta de luz — Foto: Kayan Albertin/Arte g1

Impacto na conta de luz — Foto: Kayan Albertin/Arte g1

 

Nos próximos anos, o alívio na conta de luz vai depender dos recursos que serão recebidos pela CDE, mas ele começará a ser revertido já a partir de 2026, quando entrarão em operação as novas usinas termelétricas movidas a gás natural - o principal "jabuti" da MP.

 

Os jabutis que vão pesar

 

Durante a sua tramitação no Congresso, a MP que permitiu a privatização da Eletrobras recebeu uma série de jabutis – trechos sem relação com o projeto inicial.

 

O texto aprovado, por exemplo, prevê a contratação de 8 mil megawatts de usinas termelétricas movidas a gás. Mais caras, essas usinas terão de entrar em operação entre 2026 e 2030 e serão bancadas pelo consumidor.

 

 

O impacto financeiro com a contratação das usinas termelétricas depende de uma série de fatores, como a variação da taxa de câmbio. Mas duas simulações realizadas pela TR Soluções deixam evidente o tamanho desse custo quem vem por aí.

 

Entre 2026 e 2030, num cenário otimista, o custo da contratação das termelétricas pode chegar a R$ 61,3 bilhões. Num cenário pessimista, seria ainda maior: alcançaria R$ 98 bilhões. Na prática, esse custo traria um impacto de 6,8 pontos percentuais (no cenário otimista) e de 10,9 pontos percentuais (no pessimista) na variação da tarifa de energia elétrica nesse período de quatro anos.

 

"O Congresso é que definiu quanto vai ser contratado e onde essas usinas vão ser instaladas. São em lugares que não têm nem gasoduto nem linha de transmissão", diz Helder.

 

"Será preciso levar o gás até esses locais, produzir a energia e levar a energia para o centro de consumo. Do ponto de vista, de razoabilidade econômica, não faz muito sentido a contratação dessas térmicas", acrescenta.

 

Modelo da privatização

 

A privatização da Eletrobras será realizada por meio do aumento de capital da empresa. Ou seja, novas ações da companhia serão lançadas na bolsa de valores, reduzindo a participação do governo federal, para, no máximo, 45% – hoje, a União detém cerca de 60% do capital da elétrica e, portanto, é considerada o acionista majoritário.

Sede da Eletrobras no Rio — Foto: Reuters

Sede da Eletrobras no Rio — Foto: Reuters 

 

"Essa privatização não é um processo clássico, no qual a União vende e se desfaz do ativo. É um processo que segue uma lógica diferente", diz Giuliano Ajeje, analista do banco UBS BB.

 

 

"A Eletrobras vai fazer um aumento de capital. Vai haver uma injeção (de capital) de R$ 25 bilhões na empresa, sem que a União possa acompanhar. A participação do governo, portanto, vai ser diluída, ficando abaixo de 50%", explica Ajeje.

 

O governo espera concluir o processo de privatização no fim do primeiro ou início do segundo semestre, porque acredita que os investidores ainda terão interesse nos papéis da companhia. Depois disso, a preocupação é que a incerteza com a eleição presidencial deste ano tire o apetite dos investidores.

 

Eventos externos, como os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia e a alta da taxa de juros nos Estados Unidos, também podem reduzir o interesse dos investidores nos próximos meses, prejudicando a operação.

 

"Nós vimos, nesse primeiro semestre, a entrada de aproximadamente R$ 66 bilhões de investimento estrangeiro na bolsa brasileira. Por isso se falava que a janela para fazer a capitalização da Eletrobras nesse período era muito positiva", diz Ajeje. "No momento em que o TCU conseguiu um pedido de vistas de 20 dias, a gente começou a perder essa primeira janela."

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