De longe vem a música do barzinho para me acalentar nesta sonolenta manhã de domingo.
De mais longe a ‘presença da ausência’ da Regina em formato de saudade.
Como dói a saudade sentida pelos dezoito anos de separação!
Com um ano para completar noventa anos, acho que já cumpri as minhas obrigações aqui na Terra.
Lembro dos meus amigos, contemporâneos e vejo que quase todos eles já pertencem ao plano espiritual.
Parecem me chamar para que juntos continuemos nossos trabalhos.
Deus saberá a hora de nos chamar, e só Ele.
Meu filho caçula veio me visitar.
Mediu a sua pressão arterial por três vezes.
Atualizou seus contatos pelo celular.
Trocamos algumas frases sobre assuntos variados e logo se foi.
Foi almoçar na casa da sogra, fazendo valer aquele provérbio popular: ‘quem casa um filho, perde um filho’.
Vou almoçar na companhia da minha ‘cuidadora’ com o que sobrou do ‘almoço da família no sábado’.
Escolhi uma macarronada que sequer provei. Como reserva para uma emergência — um prato de quibe cru com pão sírio.
Essa iguaria árabe é feita pela avó cuiabana, da viúva de um migrante libanês, marido de uma das minhas bisnetas.
Hoje à tarde não volto mais para o escritório.
Irei assistir pela TV, às decisões dos principais campeonatos regionais: Rio, São Paulo e Minas Gerais.
Meu time do coração — o Botafogo do Rio — ganhou a Taça Rio, que não foi comemorada pelo tamanho do time de Garrinha, Heleno de Freitas, Nilton Santos, Jairzinho, Didi, Amarildo, Gerson, Zagalo e tantos outros campeões do mundo.
O som do barzinho emudeceu, avisando que o cantor foi embora.
A ‘presença da ausência’ permaneceu, não me abandonando nunca.
Assim vivo procurando poetizar todos os momentos da minha vida, mesmo na solidão de um domingo, até não sei quando.
*Gabriel Novis Neves
https://bar-do-bugre.blogspot.com
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